domingo, 10 de novembro de 2013

Os Jornais disseram sim: O apoio jornalístico ao Golpe de 1964

Durante o governo de João Goulart, também conhecido como “Jango”, a grande imprensa foi a maior precursora das ideias que acabaram por ser fundamentais na derrubada do presidente.
 O que começou com o apoio à ascensão do governo Goulart, sob o compromisso de um regime parlamentarista, rapidamente foi alterado pela iminente ameaça de golpe comunista, devido a radicalização das medidas governamentais tomadas pelo presidente, principalmente após as reformas de base propostas pelo presidente no Comício da Central em 13 de março de 1964.

 De acordo com o artigo da socióloga Alzira Alves de Abreu para a Fundação Getúlio Vargas, poucos jornais ficaram ao lado do governo, como “A Última Hora”, que possuía um maior apelo entre estudantes e o meio sindical,  além do “Diário Carioca”. As outras grandes empresas jornalísticas começaram a atacar o governo vigente, demonizando cada vez mais o comunismo, além de propagar um suposto caos administrativo e defender que uma intervenção militar era extremamente necessária para a ordem ser instaurada no país.  


Intitulado de “Rede da Democracia”, um inédito arranjo midiático encabeçado e posto em prática por três das maiores empresas jornalísticas daquele período – Diários Associados, Globo e Jornal do Brasil –, foram responsáveis por uma campanha incisiva e conjunta em favor da destituição do Governo Goulart.
 Uma das maiores evidências desse favorecimento foram os famosos editoriais do jornal “Correio da Manhã”,  o “Basta”, publicado em 31 de março de 1964, e o “Fora”, em 10 de abril de 1964, onde explicitavam o descontentamento com o governo vigente e o crescente isolamento político de João Goulart.

Foto: Arquivo Fundação Getúlio Vargas
O Globo se retrata após anos de silêncio

Apesar do assunto ser considerado uma espécie de tabu na imprensa brasileira, o jornal “O Globo” publicou um editorial no dia 31 de agosto de 2013,  retratando-se publicamente sobre o apoio, no qual referiu-se como “um erro histórico”.

Rechaçados devido as manifestações que ocorreram frequentemente durante esse período, quando grande parte do público gritava lemas como “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, o jornal afirmou que a lembrança do acontecimento ainda é um incômodo interno na empresa, e fez questão de ressaltar que, não apenas eles, mas as principais mídias do país na época também colaboraram com o golpe, além de contar com o apoio de parcela da população que se manifestavam em diversas capitais do país.

Foto: Viomundo.com.br
O jornal, além de reconhecer, em suas próprias palavras, que o apoio foi um erro, mencionou o editorial escrito por Roberto Marinho, no dia 7 de outubro de 1974, às vésperas do fim da ditadura no país. O texto exaltava, não apenas conquistas econômicas e políticas adquiridas durante a época do governo militar no 
Brasil, mas também a própria participação do grupo no golpe. 

Apesar disso, o editorial fez questão de lembrar que o fundador sempre se posicionou com firmeza contra a perseguição a jornalistas de esquerda, assim como fez questão de abrigar muitos deles na redação do jornal durante o período de repressão.



Por: Cristiane Viamonte, Marlon Carrero e Pedro Lopes

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