domingo, 10 de novembro de 2013

Mulheres de 64: Fundamentais para o golpe

Nos anos 60 uma nova história foi escrita em relação a participação da mulher dentro da política e da sociedade. Foi a década da quebra de tabus, da liberação sexual e da emancipação da mulher.

Apesar de marcar uma revolução sexual e de costumes em todo o mundo, entre as classes médias e altas do Brasil o ideal da mulher ainda era conservador. Caberiam a elas as ocupações femininas tradicionais, cuidar da casa, de seu marido, e zelar pela educação e valores da família. Ao se tornar responsável pela condução moral, espiritual, e física do lar, ela também deveria defender essa visão de mundo, o que na época temia estar ameaçada pelo “perigo comunista”.

Esse "conservadorismo" caminhava ao lado do comunismo, à direita e a esquerda em meio a Guerra Fria. O presidente da época, João Goulart, o Jango, era considerado comunista. Quando foi chamado para assumir seu posto após Jânio Quadros renunciar seu mandato, Jango estava em viagem diplomática na China. Seu governo tinha como objetivo econômico as reformas de base. Ele achava que somente assim a economia cresceria e diminuiria as diferenças sociais.

A ideia de que o comunismo representava o fim de tudo aquilo que a dona de casa deveria proteger: a família, a religião e a propriedade. Assim, como se a nação fosse uma extensão de seu próprio lar, as mulheres da elite conservadora se deslocam para o espaço público, para defender seus valores. Existia principalmente um elemento religioso dentro disso, já que a Igreja Católica se sentia profundamente ameaçada pelo comunismo ateu.

Mulheres Do Golpe, Marcha Da Família Pela Liberdade
O dia 13 de março de 1964 foi o estopim para a explosão da luta das mulheres conservadoras e Jango. Aconteceu o Comício da Central, onde Jango apresentou as reformas com a presença de sindicatos e trabalhadores.



Após o comício surgiram marchas e manifestações contra Jango, formadas principalmente pela igreja e entidades conservadoras, formada, em sua maioria, por mulheres. A participação delas foi determinante para que o governo de Jango fosse derrubado e a ditadura entrasse em vigor.

Mulheres da sociedade conservadora, classe média, católicas e mães de família reuniam-se em movimentos financiados pelo IPES (Institutos de Pesquisas e Estudos Sociais) e pelo IBAD (Instituto Brasileiro de Ação pela Democracia). Esses movimentos aconteciam a todo instante em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e formaram organizações como a União Cívica Feminina (UCF), a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde) e a Liga da Mulher Democrata (Limde). 

As mulheres saiam pelas ruas das cidades com terços nas mãos em luta a favor dos militares e da sociedade conservadora, contra o comunismo que acreditavam existir no governo de Jango. Instruídas, passavam a diante o que aprendiam contra o comunismo para amigas, comunidade e empregados. O Limde, a UCF e a Camde patrocinavam também participações em programas de rádio e distribuição de panfletos em favor do movimento.

Deu início às Marchas da Família com Deus pela Liberdade. A primeira aconteceu em São Paulo e abriu caminho para que outras fossem realizadas em todo país, lideradas por mulheres que carregavam cartazes com dizeres como "vermelho bom, só o batom", e carregavam terços. A maior de todas as marchas aconteceu no dia 2 de abril de 1964, que passou a se chamar Marcha da Vitória por ter acontecido após o a derrubada do governo de Jango e o início do controle dos militares. Reuniu de 1 milhão de pessoas nas ruas do Rio de Janeiro.


Marcha da Família com Deus pela Liberdade, Jornal do Brasil

Após isso, as mulheres que tanto trabalharam à favor dos militares perderam sua função. Perderam a tranquilidade de ir e vir pelas ruas como nos tempos de manifestação e se tornaram as mesmas mulheres que choravam em buscas dos filhos que desapareceram em ações políticas e foram mortos ou nunca mais foram encontrados.

Após a renúncia de Jango e a tomada do poder pelos militares, a mulher perdeu sua função em meio a toda manifestação. Aquelas mesmas mulheres que antes iam as ruas lutar contra o comunismo e a favor dos militares e da sociedade agora eram as mulheres que choravam por filhos sumidos e até mortos durante a ditadura. AS mesmas mulheres que antes iam as ruas em manifestações e lutar por uma causa agora perderam seu direito de ir e vir e sua voz ativa. Perderam sua função. Com isso, surgiu um novo papel da mulher nessa sociedade: a mulher militante. As mulheres passaram a lutar contra os militares, junto aos homens, sem diferenças e distinção entre o sexo.

Passaram a fazer parte da oposição e dos grupos de luta armada. Sofreram violência, tortura e muitas morreram. Participavam de assaltos, se disfarçavam e enfrentavam o governo da época. Um exemplo dessas mulheres da luta armada em 64 é a presidenta Dilma Roussef. Dilma foi integrante de grupos terroristas que tinham como objetivo derrubar os militares e implantar um governo socialista no país, nos moldes do governo de Fidel Castro. A maior parte destas mulheres, que sobreviveram, hoje são sociólogas, jornalistas, economistas e, alguns, estão na militância política, como Dilma.

Presidente Dilma Rousseff presa durante a ditadura


Por: Carolina Danner e Patrícia Ricci

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