O impacto do ato nas redações
Apesar de o golpe ter sido dado na madrugada de
primeiro de abril – não, não é piada – de 1964, as redações não sofreram
mudanças significativas em suas rotinas editoriais. É óbvio que havia a
intervenção do governo militar, mas ainda era algo esparso, sutil. Muitas
vezes, através de telefonemas aos proprietários dos jornais, em que as
autoridades sugeriam recomendações ou se queixavam de determinadas matérias.
Entretanto, com o decreto do ato institucional número cinco, por Costa e Silva,
no dia 13 de dezembro de 1968, as coisas mudariam radicalmente.
Com a suspensão das garantias constitucionais, o Congresso
Nacional foi fechado e a censura prévia à imprensa foi instituída, além de
prisões em massa de parlamentares oposicionistas, líderes estudantis e sindicais,
intelectuais e artistas. Com a vigência do AI-5, jornalistas e donos de jornais
sentiram a violência da censura policial.
A consolidação da censura prévia à imprensa veio
no decreto-lei n° 1.077, de 26 de janeiro de 1970, no qual o general-presidente
Médici advertia que publicações contrárias ao regime, à moral e aos bons
costumes, em quaisquer meios de comunicação, não seriam toleradas.
A liberdade de expressão e as possibilidades de divulgação
de certas informações julgadas inadequadas, suspeitas ou subversivas pelo
regime foram restringidas de maneira dramática pelos censores da Polícia
Federal . As redações recebiam comunicados da PF informando quais temas ou
acontecimentos não deveriam ser noticiados, ou mostravam qual o tom a ser dado.
Sob pena de punições, como abertura de processos judiciais e ameaças de
suspensões de circulação, e represálias, que incluíam, por exemplo, corte de
verbas publicitárias do governo federal, os jornais seguiam as instruções à
risca.
O censor mora ao lado: o convivio
Se em muitos casos era incômodo em ter o censor fisicamente
presente na redação, em outros, a presença do policial “ajudava”. Alguns
jornalistas relembram que, em determinadas situações, a proximidade física com
os agentes ajudava os repórteres a perceber os critérios usados no corte de
matérias e o modo de atuação dos censores. É dito que os censores costumavam
ler apenas o início da matéria, o lide. Afinal ali era onde se encontravam as
informações mais importantes. Na teoria, é claro. Malandramente, alguns
profissionais passaram a escrever ao contrário, contando besteiras no começo e
deixando o mais importante para o final.
O Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro
durante o último governo militar, do general Figueiredo, José Carlos Monteiro
lembra que, embora os anos de chumbo tenham sido críticos para toda a imprensa,
havia condições diferentes de trabalho e coação em cada veículo. Ele ressalta
que, no jornal O Globo, onde foi um dos editores do noticiário internacional,
“foram tempos duros, tenebrosos” de 1968 em diante. “O clima na redação era
sufocante. Apesar de Roberto Marinho ter apoiado, desde o começo, o movimento
golpista, o jornal não escapou da censura”.
Por: Cristiane Viamonte, Marlon Carrero e Pedro Lopes
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui.