segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Aonde eu estava quando tudo mudou

Nos corredores da Rádio Nacional, o então jovem de 14 anos, José Lopes, entende pouco o que acontece ao seu redor. Sua atenção está voltada para seu primeiro emprego. Entre longas tardes separando cartas e desenrolando intermináveis cabos, o garoto, recém contratado, não imagina que aquela semana seria decisiva na história do país.

No rádio ouvia -se Orlando Silva, no cinema Assalto ao Trem Pagador  ainda impressionava o menino, que deixara sua pequena cidade em busca do sonho de se tornar um grande locutor.

Tudo era novo; a música, a agitação e, principalmente, os famosos que costumavam pedir pequenos favores. Como no dia em que Nelson Gonçalves o pediu algo pouco esperado.

- "Ele cruzou comigo no estúdio e disse: garoto, me arruma um par de meias pretas. Tem que ser preta!"

Tudo era fantasioso. Talvez por isso não percebia que, ao lado de fora, o presidente João Goulart estava prestes a ser derrubado e as coisas iriam mudar. E de fato mudaram.

Hoje o senhor esguio de cabelos brancos não nega que simpatizava com aqueles que, mais tarde, a história revelaria como "milicos truculentos e covardes", como ele mesmo os descreve.

Os anos passaram e o jovem mudou de opinião e de atitude. Foi ativo nos movimentos estudantis e teve uma longa vida política.

Se formou, casou  teve filhos e netos. Mas, mesmo assim, não esquece o par de meias pretas.


Por: Jose Carlos de Beltrão Couto

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