Nos corredores da Rádio Nacional,
o então jovem de 14 anos, José Lopes, entende pouco o que acontece ao seu
redor. Sua atenção está voltada para seu primeiro emprego. Entre longas tardes separando
cartas e desenrolando intermináveis cabos, o garoto, recém contratado, não
imagina que aquela semana seria decisiva na história do país.
No rádio ouvia -se Orlando Silva,
no cinema Assalto ao Trem Pagador ainda
impressionava o menino, que deixara sua pequena cidade em busca do sonho de se
tornar um grande locutor.
Tudo era novo; a música, a
agitação e, principalmente, os famosos que costumavam pedir pequenos favores.
Como no dia em que Nelson Gonçalves o pediu algo pouco esperado.
- "Ele cruzou comigo no estúdio
e disse: garoto, me arruma um par de meias pretas. Tem que ser preta!"
Tudo era fantasioso. Talvez por
isso não percebia que, ao lado de fora, o presidente João Goulart estava
prestes a ser derrubado e as coisas iriam mudar. E de fato mudaram.
Hoje o senhor esguio de cabelos
brancos não nega que simpatizava com aqueles que, mais tarde, a história
revelaria como "milicos truculentos e covardes", como ele mesmo os
descreve.
Os anos passaram e o jovem mudou
de opinião e de atitude. Foi ativo nos movimentos estudantis
e teve uma longa vida política.
Se formou, casou teve filhos e netos. Mas, mesmo assim, não
esquece o par de meias pretas.
Por: Jose Carlos de Beltrão Couto
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente aqui.